Páginas

20 de mai. de 2009

Afetividade na Aprendizagem


A aprendizagem não é um processo meramente fisiológico, mecânico, está diretamente ligado a emoção, a relação familiar... Faz-se necessário, antes de mais nada, que a criança construa adequadamente a sua imagem. É preciso que acredite em si mesma, que esteja tranquila para absorver os conteúdos e que tenha certeza do quanto é importante para os pais.

Como pode aprender algo se está preocupada com a relação desajustada dos pais, com as contas atrasadas? Como pode ser bem sucedido numa prova se ao sair de casa presenciou uma discussão desagradável? Penso que os filhos devem saber sobre a dificuldade financeira e conjugal dos pais, mas só o essencial. Nada que os deixem assustados, inseguros ou tristes. Não precisam saber dos detalhes, precisam ter a garantia de que os pais resolverão essas questões. Mesmo que a solução não seja das melhores, mas no momento é o que pode ser feito; e que acima de tudo, continuam fortes e perseverantes. Assim você está ensinando para eles que não se deve desistir de algo que não deu certo ou ficar paralisado com os problemas sem buscar as soluções. Para que tantas lamentações, queixas da vida? Para que? As crianças e os adolescentes se sentem bastante vulneráveis e impotentes diante desses fracassos colocados pelos pais, eles não podem fazer nada e ainda podem se sentir culpados. Quando a criança ou o adolescente vive num ambiente favorável, tudo se torna mais fácil. Aprender matemática, português geografia, ciências, história... fica mais fácil.

A imagem de si mesma, é construída pela criança a cada dia a partir dos comentários, dos atos e das reações dos adultos sobre ela. É nesse contato que ela se dá conta do quanto é amada, admirada, inteligente, bonita, importante, respeitada, aceita, agradável...

No momento de fazer a tarefa é imprescindível que o clima seja harmonioso. Se os pais perceberem que a criança apresenta alguma dificuldade, devem tranquilizá-la. Falar que é assim mesmo que se aprende, que tudo isso é novo para ela... mas que ela vai conseguir.

É natural que se irritem ao perceber no seu filho certas dificuldades, por que mexe diretamente com a sua auto-estima. A maioria deseja que seus filhos sejam melhores do que são. Mas cada um é único, tem seu próprio ritmo, suas características, suas preferências, desejos e necessidades. Ele pode achar um determinado assunto cansativo, mostre para ele que entende isso, mas que mesmo assim precisa estudar. Essa compreensão o ajudará a entender que você tem empatia com ele e que o respeita. Procure uma forma mais dinâmica e mais concreta para ensiná-lo nesses momentos. Mas não o culpabilize. Aos poucos ele vai entendendo que nem sempre temos que fazer somente aquilo que gostamos. Mas que é possível fazer algo que não gostamos sem tanto sofrimento.

Outra questão que deve ser sublinhada é o momento de fazer as tarefas ou de estudar. Penso que a hora de fazer isso deve ser combinada com o filho. Tirá-lo da frente da televisão quando está passando seu programa preferido, não é uma boa opção. É importante que esteja disponível. Observe se não está cansado, com fome, com raiva, preocupado... olhe para ele, sem raiva, quando se mostrar resistente, talvez vocês consigam obter um resultado mais satisfatório, se adiarem essa atividade. Vocês também precisam está atentos aos seus estados emocionais. Pode ser que não esteja bem para ajudá-lo. Ao perceber isso respire, beba um pouco de algo e retome seu papel de orientador.

Se os momentos dedicados à execução de tarefas e estudo de conteúdos forem confusos, desagradáveis, é natural que seu filho evite viver isso. É possível que pense: lá vem bomba!!! E tem mais, o seu material escolar, terá essa carga afetiva negativa. Aquele livro é o que minha mãe jogou na mesa quando ficou bastante irritada ao notar que tem muita atividade por fazer. O estojo cor de rosa, tão lindo! Outro dia meu pai disse que custou tão caro e eu não faço nada para recompensar. E o meu caderno, minha mãe disse que é nojento, desorganizado, um horror! Só por que coloquei uns adesivos, meus amigos autografaram e a letra não está lá essas coisas todas. Essas cobranças podem ser feitas, mas com carinho, firmeza e respeito. Procurem evitar que seus filhos vivenciem situações de medo ou de humilhação.

Seleciono alguns pontos considerados importantes para que consigam estabelecer uma relação harmoniosa, que venha contribuir de forma significativa para a aprendizagem de seus filhos.

  • Proporcione ao seu filho um despertar tranqüilo, sem confusão;
  • Ajude-o a se organizar;
  • Não lhe dê responsabilidades demais, vá inserindo aos poucos; para que não se tornem muito pesadas. Observe se ele realmente está pronto para assumir essas responsabilidades.
  • Não o pressione em função dos seus atrasos ou das suas dificuldades;
  • Mostre o quanto se importa com ele e que você está disposto a ajudá-lo;
  • Seja tolerante e carinhoso;
  • Considere seu ritmo;
  • Não enfatize aquilo que ele não sabe fazer, ajude-o. E lembre sempre de pontuar aquilo que ele sabe fazer;
  • Caso ele se mostre mais lento, proporcione que antecipe algumas coisas. Se estudar de manhã, deixe a mochila e o uniforme prontos para o dia seguinte;
  • Não o compare com alguém que você considera melhor que ele, para diminuí-lo;
  • Não desista do compromisso de orientá-lo;
  • Não faça comentários indesejáveis sobre sua escola ou professores; isso pode deixá-lo inseguro;
  • Estabeleça com os professores, coordenadores e diretores uma boa relação, isso é importante para que estes profissionais desenvolvam bem suas atividades;
  • Confie na escola do seu filho, ajude no que for preciso. Assim como seu filho os professores também precisam de elogios e incentivos;
  • Pontue as dificuldades que encontra na escola, como sendo uma tentativa de querer ajudar, participar e não somente criticar. Seja cauteloso e educado nas suas colocações;
  • Peça orientação à escola sobre como conduzir as atividades;
  • Caso você o acompanhe em suas tarefas escolares, tenha paciência – muita paciência;
  • Não o rotule de lento, preguiçoso, desligado; burro; apressado; irresponsável, desorganizado... você pode fazê-lo acreditar realmente nisso, não esqueça que tudo que você fala é muito importante para ele;
  • Quando deixá-lo na escola ou no portão, deseje-lhe uma boa aula e olhe nos seus olhos;
  • Ao longo do percurso casa/escola, evite discussões;
  • Nos dias de testes ou provas, demonstre confiança nele, diga-lhe que tenha tranquilidade e tudo dará certo;
  • Não demonstre muito interesse pela nota e sim pela aquisição do conhecimento;
  • Caso tire uma nota inadequada, converse com ele: por que isso aconteceu? e o que pode ser feito para melhorar?;
  • Ajude-o nas tarefas, veja sua agenda;
  • Se não tiver paciência, veja a possibilidade de conseguir alguém para fazer isso;
  • Não torne o momento de realizar as tarefas um desprazer
  • Quando se encontrarem depois da aula dele, pergunte-lhe como foi seu dia na escola;
  • Procure saber o nome dos seus colegas mais próximos;
  • Incentive-o;
  • Não esqueça que você é um modelo para ele;
  • Lembre-se que ele não aprende somente os conteúdos da escola, mas aprende tudo aquilo que vivencia quando está ao seu lado;
  • Procure saber como está na escola, como se relaciona com os colegas , professores e demais funcionários;
  • Procure mostrar-lhe o quanto é importante ser pontual, organizado e assíduo. Uma boa forma de mostrar isso é com exemplos;
  • Se seu filho apresentar, antes das provas sinais de insegurança, nervosismo... tente ver o que pode estar ocasionando a apresentação desses sintomas. Caso você não consiga resolver procure a escola e juntos procurem investigar os motivos de tal comportamento. Caso não consigam busque a ajuda de um profissional.

Seguir os passos acima não é tarefa fácil, mas é imprescindível que os pais tenham um olhar para a importância que eles possuem na vida dos seus filhos. Quando cometerem um ato inadequado, não se culpabilizem, Se desculpem e continuem de uma forma mais prazerosa. Não esqueçam que vocês têm suas próprias questões e que também precisam viver momentos de descontração, dormir bem... não esqueçam de vocês !!!

A busca pela formação profissional, desde a infância tem sido , nos dias de hoje, cada vez mais evidente. Os pais parecem estar bastante preocupados com o que os seus filhos vão ser quando crescer. Considero relevante essa preocupação, mas de nada adianta um olhar fixo para o futuro quando não se percebe o momento presente – o presente é a base do futuro.

É necessário que os pais se tranqüilizem em relação ao sucesso profissional dos seus filhos e permitam que eles sejam crianças, que brinquem, que chorem, que corram, que se melequem com sorvete de chocolate, que sejam autênticos, que sintam medo, que façam manha, que sejam felizes, que leiam, que estudem...

Torna-se imprescindível que a formação profissional seja iniciada o quanto antes, mas é preciso compreender que a formação pessoal tem grande importância. Hoje as grandes empresas vêm dando um valor especial às características pessoais de seus funcionários; portanto não importa somente ter um bom conhecimento técnico mas, ser tolerante, ter capacidade de tomar iniciativa, pensar rápido, ser bem humorado, ser responsável, ser educado, saber se colocar no lugar do outro, saber ouvir e reconhecer os próprios erros, saber dividir...

Jemima Morais Veras

Psicóloga

0 comentários:

Postar um comentário